JC Anjos deixa disponível nesta página seu livro link para download e
de quebra um bate-papo sobre seu trabalho que foi finalizado há quase sete anos
e somente agora vem à tona. Descubra o real motivo logo abaixo.
Favo de Fel: Seria
interessante começarmos com você falando sobre o livro.
JC Anjos: sim. Inicialmente eu gostaria de apontar por um fato
interessante: Este livro foi finalizado, ou diria fechado em 2006, em uma época
em que eu havia lido durante todo o meu processo de composição do livro, Charles Bukowski. Assumidamente sofri uma
influencia direta dele. É na verdade uma de minhas grandes formações
literárias. Eu me identifiquei tanto a ponto de ler todos os seus livros. Na
verdade eu o leio desde adolescência, mas naquele momento ele me influenciou
bastante e agora faz parte de minha formação como ser.
Favo de Fel: somente ele?
JC Anjos: É impossível alguém se inspirar em apenas uma coisa.
É porque somos uma soma de inúmeras coisas. No meu caso, sou um monstro de Frankestein com partes de Machado de Assis, Franz Kafka e um monte de outros escritores da literatura universal.
Li quase toda a geração beat. Como
poesia me foi importante, mas como prosa, certamente foi Bukowski .
Favo de Fel: Mas até agora você não falou muita coisa sobre seu
livro.
JC Anjos: Foi mal. (rsrsrsr), é que me empolgo com facilidade.
Mas de fato isso é importante para chegar ao meu livro. Somente agora consegui
publicá-lo on line porque me foi
difícil retomá-lo antes devido a uma série de coisas.
FV: O que, por exemplo? E porque publicá-lo somente on line?
JCA: trabalhos formais por exemplo. Eles tomam muito meu tempo.
Kkkkk. Acho que isso responde as duas perguntas, mas acrescento aqui a falta de
investimento embora nos dias de hoje sejam barato publicar um livro de forma
independente. Mas estou trabalhando nisso com R. Castro (nota: da
Favo de Fel) para publicarmos um outro livro neste ano.
FV: Mas por que não publicar este?
JCA: Este livro já foi. Não posso ficar só nisso. Há tantas
coisas que eu ainda planejo trabalhar...
FV: Sim.
JCA: Mas nada é por acaso, apesar de certos acasos. Tive que me
afastar do livro. Eu sentia que ele não mais fazia parte de mim. Fiquei
deprimido e o larguei.
FV: Exorcizou?
JCA: Hoje em dia não mais acredito nesta palavra. A gente não
exorciza nada. Apenas exterioriza. Mas no meu caso, eu já não sentia mais nada.
Eu o havia expelido porque havia transcendido as minhas referencias embora elas
estejam em minha formação como pessoa. E foi preciso passar todos esses anos
para ver que aqueles personagens já não me pertenciam. Eles estavam no mundo. O
mundo pertencia a eles.
FV: nenhuma identificação?
JCA: sim. Como um espelho, mas não parte de mim. Me tornei
publico dos meus personagens. E é isso que eu amo neles. Eles são restos da
polis. A urbe como excluída dessa polis é que é sua verdadeira mãe. Uma mãe prostituida
e eles são os filhos bastardos de vários pais vindos da polis conservadora. Eles
são orgiásticos, mas não podem praticar isso. Então eles transgridem naquilo que
costumamos sublimar... é como a velha letra de um rapper carioca: “o mundo é conservador pagando de vanguarda.” Eles
não são simplesmente copias de Bukowski. A diferença de Bukowski para a geração
beat é que ele não conseguia cruzar o
pais como os beat. Ele era filho da urbanidade. Um fudido como eu. Como toda a
classe operária de qualquer nação neoliberal ou não. Como meus personagens.
Kkkkkk.
FV: então qual é a diferença do velho Charles?
JCA: a começar, eles são brasileiros. Kkkkkk. Filhos de
imigrantes nordestinos. Aprisionados economicamente, logo, geograficamente na
cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, E seus desejos mais secretos estão
expostos quando estes perdem o controle de seus próprios desejos através de seus atos. Coisa que meu mestre Bukowski não compartilhou com seu publico.
FV: mas isso não é um paradoxo. A literatura não é meio que de
fato expõe o que temos de mais intimo...
JCA: não e sim. A arte em termos gerais expõe ao mesmo tempo em
que esconde. Os meus personagens deixam “vazar” isso em suas atitudes. Eles não
falam somente.
FV: falando nisso, percebo que você não é muito dado a
descrever o ambiente e as características físicas das personagens, né?
JCA: Sim. Talvez seja porque quando escrevo penso cinema e
quadrinhos. Além do mais, sempre achei enfadonho ler páginas e mais páginas de
detalhes. Machado de Assis que me
desculpe. Mas no mundo em que a velocidade nos obriga a ser sucintos e em
alguns casos acabamos nos tornando sintéticos. De qualquer forma isso já não
cabe mais. Já imaginou eu escrevendo páginas e mais páginas detalhando a cor
dos olhos de alguma personagem minha? Eu sou daltônico. Kkkkkk. Não dá. Isso não
tem nada a ver com poética. A poesia
cabe onde você souber usá-la e sentir que ela cabe. No meu caso, gosto de trabalhar
a psique dos meus personagens. A espacialidade é apenas um complemento na cena.
Apenas quando sinto a necessidade de pintar um belo quadro. Não desperdiço
imagens para não chatear o leitor que hoje vive a dinâmica da internet.
FV: Alguma mensagem, dica, considerações antes de encerrarmos?
JCA: Sim. Considerando
que esta entrevista seja um resumo ou introdução ao livro, digo que resumos e sinopses apenas existem para enumerar as ações de um trabalho mas
nunca seu espírito, portanto, leiam o livro.
click na figura acima para fazer o download. |
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